6 de novembro de 2012

Vivências

Bom, hoje aconteceu algo que me vejo na obrigação de compartilhar. Antes de entrar nessa história, vou relembrar um fato que aconteceu a uns 4 anos atrás.
No meu setor, tem um cara que assassinou o pai dele, porque ele abusava sexualmente dele e da mãe, batia e coisas assim. Ele teve seu tempo preso, e depois voltou para as ruas, todo mundo vê ele como um doido, esquizofrênico e tal, mas uma vez estava comendo sanduíche na rua com uns amigos, e este cara apareceu e pediu pra sentar com a gente. Então ele sentou e começamos a conversar, ou melhor, praticamente só ele começou a falar. Desde esse dia comecei a pensar melhor sobre essas pessoas, que a população em geral, julga "doido" ou fora dos padrões, é engraçado como alguém assim sabe muitas vezes mais do que nós sobre o que sabemos, e sabem muito mais ainda sobre o que nós não sabemos. Até então eu nunca havia ouvido falar sobre os mistérios do Triângulo das Bermudas, e o cara deu uma aula pra gente, e depois começou a falar da área 51, e falou muito sobre esses dois lugares, coisas que depois pesquisei e percebi que são bem "verídicos" pra quem acredita.
Até então nada muito especial, eu sei, mas às vezes a gente apenas vê pessoas assim, e associa elas à necessidade de ajuda, mas muito pouco pensamos que dentro daquele corpos existe um cérebro incrível funcionando, igual ou até melhor que os nossos.
Hoje, tive uma experiência que me lembrou a esta, mas com uma carga de emoção muito mais forte. Bom, meu último post foi meio tenso, e muitos me associaram às drogas e tudo mais, fui chamado de drogado e afins, mas não é bem assim. Vamos aos fatos, estava voltando da casa da minha namorada, e peguei o ônibus perto das 21 hrs, dentro do ônibus tinha um cara que é meio doido, sempre mexendo com as pessoas, dando socos no vento, andando de um lado pro outro, sujo e fedido. Passou um tempo e o ônibus esvaziou, e ficamos eu e esse cara, eu quieto ouvindo música até que ele senta do meu lado, perguntou o que eu tava ouvindo e praticamente tirou meu fone e começou a ouvir, e então pediu dinheiro, pensei que ia ser assaltado, mas quando eu disse que não tinha, ele só falou "pode crer mulekin", de certa forma fiquei meio aliviado, mas ao invés de sair de perto ele começou a falar, e perguntou se eu sabia onde achava a "louca" lá no itatiaia, sabia que ele tava se referindo a alguma droga, falei que não mexia com isso e fiquei quieto, aí ele disse que só queria fumar uma pedra pra ficar de boa. A louca era o crack. Bem coerente, já que o crack enlouquece as pessoas facilmente.
O cara então começou a perguntar minha idade e o que eu fazia, e começou a falar da vida dele, você é "bebê", falou se referindo a minha idade (21 anos), "tenho 34 anos, e sei que vou morrer logo, mas faz parte, perdi 2 'bebês' igual você, é triste demais, então quando quiserem me levar to tranquilo...", então parei pra pensar, o cara teve um "motivo" pra entrar nessa, no fim das contas acho que todos tem, talvez fraqueza por alguma perda, ou fraqueza por não conseguir cumprir seus objetivos, mas continuando, ele disse, "mulekin, faz sua faculdade aí, estuda, num se envolve com drogas não, é a melhor coisa que você faz, tem que seguir um rumo...", como diz Projota, Foco, "foco, força e fé", o usuário sabe que o crack é uma merda, sabe que provavelmente não tem volta, mas muitas vezes não consegue sair, talvez ele tenha entrado por ter perdido mesmo alguém (foi o que eu entendi), e agora ele sabe que tá na "merda", e o pior é ele querer sair, e não conseguir, talvez por falta de ajuda, ou por falta de força de vontade, mas essa viagem de volta pra casa, me emocionou pra caramba, de modo que tive que compartilhar isso por aqui.
Muitas vezes nós (me incluo nessa) vemos drogados na rua, e repudiamos, "bandidos", "vagabundos", mas sei lá, quando paramos pra pensar, ninguém tá ali porque quer, com alguma fraqueza, ou vacilo, entraram nessa, e perceberam, que por menos tempo de uso, pode ser tarde demais pra sair. O que eu passo, depois de hoje, é que mesmo tendo medo, são pessoas, como eu, como você, como a sua mãe, pareceu a propaganda do Serra, mas brincadeiras a parte, são pessoas, que tem coração, e tem uma história, e muitas vezes, por mais que eles queiram dinheiro para as drogas, eles querem também um aperto de mão, e um ouvido, para contarem sua história, pensem nisso.

E cerquem-se de boas intenções.

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